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MORREU O GENERAL MARCEL BIGEARD

Por • 20 Jun , 2010 • Categoria: 01. NOTÍCIAS Print Print

Morreu em Toul no passado dia 18 de Junho o General Marcel Bigeard, autêntica lenda viva dos pára-quedistas franceses e para muitos em França como um pouco em todo o mundo ocidental, a personificação do militar de elite.

O Coronel Pára-Quedista Marcel Bigeard.

O Coronel Pára-Quedista Marcel Bigeard.

O seu corpo está em câmara ardente, escoltado por 4 militares pára-quedistas, na sua residência no Nordeste de França, e as cerimónias fúnebres terão lugar na Catedral de Toul em 21 de Junho e em Paris, homenagem nacional, a 22 na Igreja de São Luís dos Inválidos (onde fica também o Museu do Exército Francês e onde está sepultado Napoleão).
Marcel Bigeard contava 94 anos de idade e havia sido hospitalizado na sequência de uma trombose em Março último. Recuperou ligeiramente e regressou a casa acabando agora por sucumbir.
Os mais novos dos nossos leitores nunca terão ouvido falar deste Soldado, mas a sua carreira, os seus feitos de armas são bem conhecidos por gerações de militares portugueses que fizeram as guerras do Ultramar.

Nos links que vos deixamos no final deste texto poderão ver a sua carreira em detalhe.

Atente-se desde já nas reacções que Presidente da República, Ministro da Defesa, Secretário de Estado da Defesa, Exército, Associações de Antigos Combatentes, tiveram de imediato, estão a divulgar e as cerimónias oficiais que vão ser feitas. É a França que o está a homenagear.
Aqui nesta singela homenagem que o Operacional não podia deixar de partilhar com os nossos leitores, três ou quatro referências que nos parecem oportunas.

Dedicatória de Bigeard aos seus "camaradas portugueses" (foto de arquivo da extinta Revista Baluarte).

Dedicatória de Bigeard aos seus "camaradas portugueses" (foto de arquivo da extinta Revista Baluarte).

– Desde logo que vários militares portugueses, do Exército e da Força Aérea (Pára-quedistas) contactaram com Marcel Bigeard na Argélia, quando ali se deslocaram para observar as técnicas que na época os pára-quedistas franceses empregavam para combater o terrorismo. O “modo francês ” de fazer a guerra foi em muitos aspectos copiado e depois adaptado por nós. Recordo a título de exemplo um antigo oficial miliciano dos Caçadores Especiais, mais tarde advogado, que guardava religiosamente no seu gabinete, passados 40 anos, manuscritos  em língua francesa e que haviam servido de base a manuais portugueses.
– Bigeard foi um chefe carismático, um guerreiro, ferido 5 vezes em combate, mas também um autêntico “relações públicas”! Era acarinhado pelos pára-quedistas franceses de todas as idades. Fez um percurso brilhante que o levou, degrau a degrau, de soldado a general de 4 estrelas (impossível em Portugal), mas retribuía com uma simplicidade e uma proximidade pouco vulgares as manifestações de apreço que sempre e em toda a parte lhe faziam. Manteve quase até à morte correspondência com pára-quedistas de todo o mundo. O António Sucena do Carmo, aqui do Operacional, era um desses pára-quedistas.

A última carta (com dedicatória) que o António Sucena do Carmo recebeu de Marcel Bigeard

A última carta (com dedicatória) que o António Sucena do Carmo recebeu de Marcel Bigeard.

– A sua acção em combate, notável, tornou-se conhecida também pela sua relação de proximidade com os jornalistas. Foi em França um precursor do relacionamento media/militares. Os seus detractores – que os tinha como é fácil compreender – acusavam-no de ser tão bom a combater como a fazer com que isso se soubesse!

A comunicação estava-lhe no sangue. Um dos seus livros, aqui com fotos do Sargento-Chefe Flament mostra a guerra na Argélia e o sacrificio dos seus homens. Na capa, os últimos instantes, ferido de morte, do Sargento-Chefe Sentenac. Evadido de Dien Bien Phu, já antes ferido em combate por sete vezes.

A comunicação estava-lhe no sangue. Um dos seus livros, aqui com fotos do Sargento-Chefe Flament mostra a guerra na Argélia e o sacrifício dos seus homens. Na capa, os últimos instantes, ferido de morte, do Sargento-Chefe Sentenac.

– Embora ele próprio tivesse publicado vários livros (nada menos que 16, o último dos quais em Setembro de 2009 quando já pressentia a morte – Mon dernier round), foi também imortalizado nos livros de Jean Larteguy (aliás Jean Pierre Lucien Osty), “Os Centuriões” e “Os Pretorianos”, como Coronel Raspeguy, em que o autor – antigo oficial e depois correspondente de guerra – se inspirou. Muitos dos nossos militares que partiam para África eram aconselhados a ler estes livros e, curiosamente, hoje com os conflitos anti-subversivos em curso no Iraque e Afeganistão, a sua leitura volta a ser recomendada! As descrições de Larteguy sobre a guerra e o modo como ela era encarada pelos pára-quedistas franceses (à imagem de Bigeard) traduziam um estilo de militar, que fez escola em muitos países da Europa com problemas semelhantes aos de França. A cultura do militar de elite, que procura ser melhor que os outros, usar um acessório de fardamento diferente, comer menos e correr mais, usar o rosto eternamente escanhoado e as botas sempre engraxadas mesmo nas situações mais incríveis, cumprir as missões mais difíceis e arriscadas (Bigeard, como tantos outros saltaram em Dien Phien Phu cercada e acabaria um dos prisioneiros de guerra dos Viet´s), foi um estilo de soldado que teve o seu tempo e – com as devidas diferenças – volta a ter adeptos perante a dureza dos combates no Afeganistão.

Em Setembro de 2009 publicou o seu "último tiro".

Em Setembro de 2009 publicou o seu "último tiro". Por sua vontade - assim o Vietname o autorize - as suas cinzas serão lançadas sobre Dien Bien Phu.

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