LANÇAMENTO DO LIVRO “AO RITMO DO GUIA”
Por Miguel Machado • 16 Mar , 2015 • Categoria: 01. NOTÍCIAS PrintQuem frequentou o curso de pára-quedismo militar português, desde os anos 50 até hoje, sabe bem o que significa esta expressão tantas vezes repetida pelos instrutores ora como incentivo, ora como repreensão, sempre para que todos como um só corpo cumpram o objectivo da instrução. Sem dúvida título que encaixa bem no primeiro diário deste exigente curso publicado em livro, tema da obra lançada a 15 de Março de 2015 na Escola de Tropas Pára-quedistas (ETP), em Tancos.
O curso de pára-quedismo militar português, ministrado em Tancos desde os anos 50, foi muito inspirado no modelo brasileiro mas também teve algo do francês e ainda do espanhol, onde um primeiro grande contingente de militares portugueses frequentaram, em 1955, o curso de pára-quedismo militar da Força Aérea de Espanha. Desde esses tempos dos “Pioneiros”, como respeitosamente todos os outros se referem aos primeiros pára-quedistas portugueses, até hoje, a “Casa-Mãe” das Tropas Pára-quedistas Portuguesas já formou mais de 45.000 “boinas verdes”. Primeiro no Batalhão de Caçadores Pára-quedistas, depois Regimento, a que se seguiu a Base Escola de Tropas Pára-quedistas, tudo unidades da Força Aérea Portuguesa até 1993 e depois, no Exército, a Escola de Tropas Aerotransportada e a actual Escola de Tropas Pára-quedistas. Apesar dos anos e de todas as vicissitudes porque passaram as tropas pára-quedistas, a guerra em África, o período revolucionário em Portugal e a reconstrução de um Corpo de Tropas Pára-quedistas, a transferência de ramo com muitas alterações organizacionais e de cultura institucional, as missões de apoio à paz um pouco por todo o mundo, a dispersão territorial das unidades dos dias de hoje e uma enorme rotação dos quadros permanentes antes colocados “toda a vida” nos pára-quedistas, a tudo isto, o curso de pára-quedismo sobreviveu e, imagine-se, muito pouco mudou na sua organização. Se juntarmos um pára-quedista dos anos 60 com um de hoje, ambos sabem o que o outro quer dizer quando falam do seu curso de pára-quedismo!
A apresentação da obra “Ao Ritmo do Guia”, em Tancos, transformou-se num encontro de “boinas verdes” de várias gerações e postos, do soldado do Curso de Espanha em 1955 ao General Chefe do Estado-Maior do Exército em 2015, também ele pára-quedista.
Este livro é o resultado de um diário escrito em 1985, no decurso do 123.º curso de pára-quedismo, por três jovens militares que o frequentaram, e que agora o transformaram em livro, enriquecendo-o com um enorme lote de fotografias alusivas às diferentes fases dos cursos de pára-quedismo. Pelo que acima escrevemos a obra – que ainda não lemos e que oportunamente será objecto de crítica na nossa secção “Já Lemos” – tem todas as condições para ser o suporte escrito de uma realidade com a qual todos os pára-quedistas militares portugueses se identificam e ao mesmo tempo, para o exterior deste núcleo restrito de militares de élite, um documento que revela os detalhes diários daquilo que leva exactamente estes portugueses a serem considerados militares de excepção.
Os Alferes de Infantaria do Exército Português, Anacleto Santos, Cardoso Perestrelo e Santos Correia, tinham o sonho de conquistar a boina verde e de fazer carreira no Corpo de Tropas Pára-quedistas. Conseguiram, mas o caminho não foi fácil, nunca foi para ninguém, mas estes candidatos, noite após noite, escreveram, “a quente”, aquilo que viram e sentiram. Esta partilha que fazem, este testemunho, foi apresentado no auditório Coronel Pára-quedista Alcinio Ribeiro da ETP completamente cheio e aqui deixamos uma síntese do que vimos e ouvimos .
O Major-General Pára-quedista, comandante da Brigada de Reacção Rápida, Cardoso Perestrelo, abordou na sua alocução de um modo muito genérico o que é o livro e como nasceu, quais os objectivos com que foi escrito e as motivações dos três jovens militares para terem cumprido, dia após dia, um ritual de escrita e depois, anos mais tarde, terem passado este manuscrito a livro. Fez os agradecimentos a colaboradores e patrocinadores – as receitas da venda do livro revertem inteiramente para o Pára-Clube Nacional os Boinas Verdes e a obra contou com patrocínios de entidades públicas e privadas – e recordou com alguma emoção momentos e pessoas marcantes no decurso deste seu início de carreira nas Tropas Pára-quedistas. Não deixou naturalmente de se dirigir, reconhecido, a todos os presentes, destacando como é de bom-tom os convidados que não são “da casa”, nomeadamente os autarcas presentes, o adido militar do Brasil – também ele pára-quedista – e antigos e actuais pilotos aviadores das Esquadras 501 e 502 da Força Aérea Portuguesa;
O Tenente-Coronel Pára-quedista (Reforma) Anacleto Santos apresentou a obra com maior detalhe, em que condições foi escrita, ponteando a sua alocução com alguns (poucos!) episódios do livro, deixando bem vincado em todos os presentes aquilo que significava à data, para um jovem militar dos quadros permanentes do Exército optar por ser pára-quedista, e as limitações e dificuldades que automaticamente isso colocava, desde uma auto-limitação na ascensão aos postos mais elevados da carreira de um oficial – na altura nos pára-quedistas da Força Aérea apenas havia um oficial general (brigadeiro) e o horizonte máximo para a quase totalidade dos oficiais oriundos da Academia Militar era desde sempre e de facto coronel – até ao ambiente que tinham que ultrapassar numa Base Escola de Tropas Pára-quedistas, eles, jovens oficiais do Exército, mergulhados numa unidade da Força Aérea, um mundo diferente, onde a integração exigia uma vontade férrea e a certeza interior do objectivo que se propunham alcançar, a boina verde. Se o curso era de facto o mesmo de hoje, já em termos de carreira militar as coisas eram muito diferentes, o curso não se fazia para passar um “par de anos” e regressar à arma de origem e depois, mais tarde, voltar de novo, era sim uma opção para a vida.
Em ambos os oradores a certeza que a obra agora publicada poderá interessar a todos os pára-quedistas militares portugueses e que nos episódios relatados muitas semelhanças com as suas próprias vivências pessoais serão certamente encontradas. Aos que não foram pára-quedistas aqui terão uma oportunidade de ler com um detalhe nunca até agora escrito, aquilo porque passam os jovens que tomam essa opção de integrar este corpo de tropas e que através da instrução para saltar em pára-quedas e das suas envolventes, muito mais do que uma especialização técnica, lhes é incutido um “espírito de corpo” de características únicas no nosso país.
Todas as fotografias desta noticia são de Alfredo Serrano Rosa
O livro pode ser adquirido no Pára-Clube Nacional Os Boinas Verdes e tem o preço de 15,00€.
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