JOSÉ GUILHERME MANSILHA (1935-2013)
Por Miguel Machado • 19 Mai , 2013 • Categoria: 02. OPINIÃO PrintFaleceu no passado dia 17 de Maio o Coronel Pára-quedista José Guilherme Rosa Rodrigues Mansilha. Do muito que a sua vida tem para recordar, permitimo-nos aqui lembrar algumas passagens e a sua colaboração com o “Operacional”. Até sempre meu Coronel!
«O Pai partiu hoje, em Paz, tranquilo, junto a nós, em casa e na companhia de um amigo de toda a vida, Coronel Calheiros… … Conforme sua vontade o corpo estava já doado à faculdade medicina, não haverá assim nem velório, nem funeral».
Assim escreveu a filha de José Guilherme Mansilha dando conhecimento da morte do pai. Terminava um período longo e doloroso em que o coronel José Mansilha com um notável estado de espírito, sempre informando os amigos da sua situação clínica com detalhes por vezes angustiantes mas também polvilhados de esperança e de muita determinação, encarou a doença e lutou até ao fim. Quem o conhecia bem dizia que nunca poderia ter sido de outro modo.
Não tenho competência para escrever em detalhe sobre o muito que José Mansilha envergando a boina verde fez de arma na mão, cumprindo o seu dever como português e como militar. Não sou seu contemporâneo mas fruto da colaboração que prestou ao “Operacional” acabei por saber, na primeira pessoa e por amigos, alguma coisa do seu percurso militar. A sua carreira pautou-se sempre por critérios de seriedade, frontalidade e também, pelo modo como falava de algumas passagens mais marcantes, de entusiasmo e determinação. Na guerra onde esteve entre os primeiros pára-quedistas a combater Angola, olhos nos olhos com o inimigo de então em condições indescritíveis; no desenvolvimento do pára-quedismo desportivo no meio militar mas também na sociedade civil, actividade pela qual tinha um afecto singular; no chamado “PREC” onde enfrentou as vicissitudes da turbulência politica que afectou as Forças Armadas e a sociedade portuguesa, tendo estado envolvido em situações de grande melindre; e mais tarde na reconstrução das tropas pára-quedistas, onde deu o seu contributo e se afastou quando achou que tinha cumprido a sua missão.
Já tarde conheci o Coronel Mansilha pessoalmente mas tive o privilégio de com ele trocar muita correspondência fruto do seu entusiasmo pela colaboração que amavelmente quis prestar ao “Operacional” publicando aqui as suas memórias dos primórdios do pára-quedismo desportivo, quer no antigo Regimento de Caçadores Pára-quedistas, em Tancos, que nos Batalhões de Caçadores Pára-quedistas em Angola e Moçambique, quer ainda em competições internacionais, na Europa, África e Brasil, nas quais foi um competidor destacado, o melhor em muitas ocasiões. Apesar disso sempre realçava o trabalho de outros, dos seus contemporâneos no pára-quedismo desportivo militar e civil e tinha sempre grande cuidado em “não deixar ninguém fora da fotografia”.
Em tudo o que escreveu, uma preocupação estava sempre presente e sempre me repetia, “…não acha que isto pode parecer que me estou a por em bicos de pés? Se achar não publique, altera-se, peço-lhe! A minha intenção não é dizer bem de mim, é contar o que se passou e eu também lá estava…”. Eu sempre repetia que, “…ao contrário meu coronel, o facto de falar na primeira pessoa é uma garantia de verdade, sabe que assim foi porque foi consigo que se passou…”. Tinha muita preocupação com o rigor do que escrevia, só me enviava os textos quando os confirmava junto de amigos que com ele tinham vivido as situações.
Sinceramente me emociono quando penso na confiança depositada e na satisfação com que me abordava depois dos artigos publicados.
Conhecedor da riqueza humana e operacional da sua vida militar tentei que escrevesse as suas memórias da guerra para publicar aqui no “Operacional”. Não lhe agradava a ideia e chegou mesmo a dizer que tinha uma memória muito selectiva, que já tinha escrito algumas coisas em tempos e que não lhe interessava recordar, tanto mais que a fazê-lo teria que contradizer alguns autores. Ainda assim estava a fazê-lo, estive a ver esse trabalho na sua residência em Oeiras no início de Abril último e, no meio de grandes incómodos e sacrifícios a que a doença o obrigava, cumpria as suas inevitáveis revisões. Preocupado como sempre com a verdade nua e crua dos factos pelos quais tinha passado. Do pouco que acabamos por falar da guerra, sobretudo os episódios de 1961 em Angola, foi de facto uma autêntica epopeia aquela em que José Mansilha participou, com os pára-quedistas, pilotos, outros militares, policias, colonos e muitos habitantes locais. Uma epopeia que não pode ser esquecida.
Independentemente da empatia pessoal que criei com o Coronel José Mansilha, até por questões que não têm a ver com o “Operacional” ou os pára-quedistas, mais do que um colaborador, sabemos que perdemos um Amigo.
Aqui fica a pequena síntese biográfica que publicamos na sua primeira colaboração com o “Operacional” e o link para os respectivos artigos.
José Mansilha, coronel pára-quedista na situação de reforma, teve uma carreira cheia quer como combatente em África onde foi comandante de pelotão, companhia e batalhão, quer como entusiasta da queda livre ou ligado à instrução e a funções de estado-maior.
Depois de terminar a Academia Militar (Arma de Infantaria) ofereceu-se para as Tropas Pára-quedistas em 1959 como alferes, tendo frequentado o 8.º curso de para-quedismo militar ministrado em Portugal, no então Batalhão de Caçadores Pára-quedistas. Embarcou para Angola em 16 de Março de 1961, no comando do primeiro Grupo de Combate que saiu de Portugal após o início da guerra Ultramarina. Iniciou assim a sua vida “nómada” entre a Metrópole e África: Angola, 1961/63 e 1965/67; Moçambique na Beira; 1968/1970 e Nacala, 1972/74, onde se encontrava em 25 de Abril de 1974. No Corpo de Tropas Pára-quedistas (CTP) da Força Aérea foi segundo comandante e comandante da Base Operacional de Tropas Pára-quedistas N.º 1 e Chefe de Estado-Maior do CTP. Passou à situação de Reserva em 1982.
No âmbito da queda-livre, fez o curso de Instrutor e Monitor Pára-quedista em 1964 no Regimento de Caçadores Pára-quedistas dedicando-se depois à prática desta actividade que tem uma vertente militar mas também civil. Tomou parte, como chefe da equipa, em três campeonatos do Conselho Internacional do Desporto Militar (CISM), no Brasil, Alemanha e Portugal e dois torneios na Bélgica. Acompanhou, como chefe de Delegação, a equipa portuguesa a um CISM em Espanha e a dois torneios na Bélgica. No Ultramar dedicou-se à instrução de pára-quedistas civis em especial em Luanda, onde foi director do 1.º curso civil de queda livre em Portugal (1966), mas também na Beira em Moçambique.
Depois de reformado dedicou-se durante dois anos à aprendizagem e ensino de fabrico de tapetes de Arraiolos. Tendo tirado o Curso de Formação de Formadores no Instituto de Emprego e Formação Profissional, foi Director de Instrução de uma empresa de segurança privada durante 14 anos.
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