FUZILEIROS, FACTOS E FEITOS NA GUERRA DE ÁFRICA 1961/1974
Por Miguel Machado • 13 Fev , 2009 • Categoria: 08. JÁ LEMOS E... PrintAutor: Capitão-de-fragata Fuzileiro Especial, Luís Sanches de Baêna
Edição: Comissão Cultural da Marinha / Edições INAPA, Outubro de 2006
Volume I – Fuzileiros, Factos e Feitos na Guerra de África 1961/1974, ISBN: 972-797-132-6
Volume II – Fuzileiros, Factos e Feitos na Guerra de África 1961/1974, Crónica dos Feitos de Angola, ISBN: 972-797-133-4
Volume III – Fuzileiros, Factos e Feitos na Guerra de África 1961/1974, Crónica dos Feitos da Guiné, ISBN: 972-797-134-2
Volume IV – Fuzileiros, Factos e Feitos na Guerra de África 1961/1974, Crónica dos Feitos de Moçambique, ISBN: 972-797-135-0
Conjunto de 4 volumes, profusamente ilustrados com fotos a preto e branco e a cores, e bem assim como reproduções de muitos esboços de operações, onde o leitor pode seguir a história deste corpo de elite das Forças Armadas Portuguesas, no período em apreço, o da última guerra que Portugal travou em África.
A leitura é fácil e muito agradável, porque o comandante Baêna conseguiu articular aspectos gerais da política nacional nessa época e o respectivo enquadramento internacional com os factos especificamente relativos aos fuzileiros, sendo estes não só suportados em documentos oficiais como em muitos relatos pessoais bem vivos e que chegam ao ínfimo detalhe.
E a verdade é que se está perante não só a História dos Fuzileiros como de muitas das componentes da Marinha que com eles operaram. O esforço de guerra daquilo que na obra se refere como sendo conhecido à época por “poeira naval” (fica o desafio da leitura para descodificar!), está também – talvez pela primeira vez – bem retratado neste trabalho.
Não perdendo o objectivo da obra o autor não deixa de fazer amplas referências a outras unidades da Força Aérea e do Exército, sempre que estas actuaram “lado a lado” com os fuzileiros. É o caso de várias acções em que Fuzileiros Especiais e Tropas Pára-quedistas se encontraram desde as primeiras operações em Angola, curiosamente conhecidas por “PARAFUSO” até aos tempos da descolonização.
O I volume é dedicado ao processo de “renascimento” do fuzileiros em 1961 e a questões introdutórias e gerais como a organização, o armamento utilizado, as insígnias, a instrução e muitos outros aspectos, permitem ao leitor introduzir-se na temática deste trabalho. Parte importante destas primeiras 300 páginas são dedicadas não só à listagem dos fuzileiros mortos em campanha como aos condecorados e ainda à listagem nominal de todos os militares que integraram as Unidades de Fuzileiros (Destacamentos de Fuzileiros Especiais; Companhias de Fuzileiros; Pelotões Independentes e de Reforço).
Nos volumes seguintes (II, III e IV), a guerra é tratada ano a ano e nos diferentes locais onde as unidades de Fuzileiros actuaram. A metodologia de descrição dos factos é a de entrecortar o relato do autor com excertos de relatórios das operações e com declarações de alguns intervenientes, muitas recolhidas no âmbito do projecto de História Oral da Marinha.
Um dos aliciantes da obra é a reprodução de documentos classificados desses tempos (desclassificados para esta finalidade), muitos inéditos e certamente julgados por muitos desaparecidos na voragem dos acontecimentos quer em África quer em Portugal Continental. Um exemplo entre muitos, o Plano de Operações “Cordão Umbilical” (Secreto) relativo à última missão que as Forças Armadas Portuguesas cumpriram em Angola, em 1975, no fundo a segurança à cerimónia de arrear da Bandeira Nacional na Fortaleza de S. Miguel e à evacuação das últimas forças portuguesas em 10 de Novembro de 1975. Como apontamento curioso lê-se no último parágrafo deste documento histórico: “…Após a cerimónia um Oficial Pára-quedista, a designar, fechará a porta da fortaleza.”
O II volume, com 250 páginas, reporta-se à guerra nesta antiga província desde que os Fuzileiros ali chegaram em 1961 até ao dia que antecedeu a Independência em 1975, não descurando uma introdução histórica e uma visão sobre o meio físico, a população e as religiões, a divisão administrativa e muitos dados relativos à subversão e aos movimentos que combateram contra a permanência de Portugal em Angola. São capítulos principais: “A Frente Fluvial do Zaire”; “O Inimigo”; “A Frente Leste”; “A Rota Agostinho Neto”; “Nas Terras do Fim do Mundo”; “O Desabar do Império”.
O volume III, com 280 páginas, além da introdução relativa à Natureza, às Etnias e ao “terrorismo”, mais uma vez o esforço de fuzileiros e marinheiros está aqui bem retratado. Nas difíceis condições daquela província, quer no respeitante ao meio físico quer ao inimigo, os Fuzileiros, operando em diferentes épocas sob diferentes “filosofias de emprego” de acordo com a “visão” dos comandantes-chefes em presença, fizeram aquilo para que foram formados: combateram. Aqui Sanches Baêna não deixa de abordar os infelizes acontecimentos que opuseram “fuzos” a “páras” e resultaram na morte de dois “boinas verdes” mas também o ronco da captura do oficial cubano Peralta pelas Tropas Pára-quedistas. Os principais capítulos neste volume são: “A Guerra”; “O PAIGC”; “O Dispositivo de Contrapenetração”; “A Operação Mar Verde”; “Os Anos do Fim”.
Termina esta obra com o volume IV, mais 250 páginas, que inclui as referências à História da Província, à Natureza, Etnias, Religião e aspectos da subversão, todos eles sem dúvida importantes sobretudo para quem já não estuda estes aspectos nos bancos da Escola, segundo depois para: “A Guerra”; “A Frente do Niassa”; “O Inimigo”; “O Alastrar da Guerra – Os Aldeamentos”; “A Frente de Tete”; “A Retirada”.
Outro aspecto de realçar nestes quatro volumes, mas sobretudo nos respeitantes à guerra, é o facto, pouco habitual, de serem abordados sem complexos aspectos negativos da actuação quer de fuzileiros quer de outros actores no conflito. O comandante Baêna deu sem dúvida à obra um cunho patriótico mas não esconde erros e enganos, falhas e injustiças. O que é muito raro num trabalho de carácter oficial, ontem como hoje.
A Marinha e todos os que na elaboração destes livros participaram, desde o autor aos que com ele colaboraram e aos quais ele penhoradamente agradeceu na cerimónia de lançamento e agradece nos livros, prestam sem dúvida através desta obra, um contributo muito significativo ao estudo da História de Portugal.
Miguel Machado é
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