EXPOSIÇÃO GUARDA NACIONAL REPUBLICANA, 103.º ANIVERSÁRIO
Por Miguel Machado • 7 Mai , 2014 • Categoria: 03. REPORTAGEM, 14.TURISMO MILITAR PrintMais uma vez tivemos oportunidade de visitar uma exposição no Comando-Geral da GNR – entrada livre e aberta até 11 de Maio – desta vez alusiva, segundo a organização, à “comemoração do 103.º aniversário da GNR quando se comemoram os 40 anos da revolução dos cravos”. Além da exposição em si, interessante, a visitar sem dúvida, curiosa a visão institucional sobre a participação da Guarda no 25 de Abril de 1974.
A exposição está bem organizada, tem espaço para os visitantes circularem e os elementos museológicos escolhidos são, como convém a este tipo de mostras que se destinam ao público em geral e não a especialistas, significativos mas em número reduzido. O percurso sugerido aos visitantes não sendo demorado, é ainda assim maior do que à primeira vista possa parecer, permitindo não só a visita àquilo que foi escolhido para ilustrar os 103 anos de história da GNR, como uma área talvez semelhante em dimensão ou mesmo maior, ao dia 25 de Abril de 1974, e ainda a zona dos claustros e cisterna, onde, além de aspectos relativos ao convento e a D. Nuno Álvares Pereira – que o mandou construir – como vem sendo hábito em exposições anteriores, se colocam meios motorizados e outros de maiores dimensões. Na parte do Largo do Carmo fronteira ao Comando Geral a Guarda promove algumas actividades para o público, as quais, diga-se são muito concorridas e o mesmo nos pareceu acontecer com a exposição, a qual é visitada quer por nacionais quer por estrangeiros.
A Guarda Nacional Republicana foi legalmente criada em 3 de Maio de 1911 mas vai buscar as suas origens à Guarda Real de Polícia de Lisboa (1801), e depois à sua congénere do Porto, mais tarde extintas e substituídas pelas Guardas Municipais de Lisboa e do Porto, estas também por sua vez extintas pela República em 1910. É assim natural que a exposição abranja não só o período da República mas parte dos seus antecedentes na Monarquia. Seguem-se elementos relativos aos anos 40/80 (esta designação é nossa, pela análise dos equipamentos e fardamentos expostos), alguns guiões heráldicos da actualidade, incluindo de duas unidades empenhadas em operações no Iraque e Timor (ao que nos pareceu, não estavam identificados) e segue-se a visita para o “sector 25ABR74”. Aliás já neste núcleo histórico que referimos, emerge uma espingarda automática G-3 com um cravo vermelho e uma fotografia de grandes dimensões de populares e militares do Exército “no 25 de Abril”.
Sobre o golpe militar, designado na exposição por “Revolução de 25 de Abril”, vários objectos usados nesse dia estão expostos (ver fotos), há painéis fotográficos com legendas detalhando os acontecimentos que envolveram o quartel e Largo do Carmo e algumas áreas envolventes e mesmo gravações audio a correr sobre a temática. Também o gabinete do Comandante-Geral é em parte visível, neste sector. O Salão Nobre do Comando-Geral onde se encontram as fotografias dos comandantes desde 1801 até aos dias de hoje, pode ser visitado e está também referenciado pela sua utilização no 25 de Abril de 1974.
No exterior é possível apreciar uma belo conjunto de motociclos que serviram na Guarda e bem assim como algumas das viaturas mais emblemáticas que a instituição foi mantendo, recuperando e hoje se encontram ali disponíveis para visita. Do “Porche 356B” recebido da antiga Policia de Viação e Transito (é esta aliás a única referência a esta policia que viria ser extinta em 1970 e viria dar origem à Brigada de Trânsito), ao “Mini Moke” da também extinta Guarda Fiscal (esta com destaque na exposição), entre várias outras viaturas como um blindado “Shorland” e um “Iveco”. Curiosa ainda a inserção de uma peça de artilharia “Schneider Canet” modelo 1904 de 75mm, não havendo qualquer referência ao seu uso pela Guarda. O Exército português usou-a na Grande Guerra em França e em Portugal até aos anos 40.
No Largo do Carmo as várias actividades propostas pela GNR, nomeadamente com uso de cavalos, têm grande aceitação do público, sobretudo turistas segundo nos pareceu, havendo da parte dos militares da Guarda uma postura sem dúvida adequada a este tipo de acções.
Trata-se assim de uma exposição a visitar, até 11 de Maio, aberta todos os dias das 10H00 às 18H00 e com entrada livre.
A Guarda persegue paulatinamente e parece-nos com sucesso, o afastamento do rótulo que durante muitos anos carregou de apoiante do Estado Novo, agora para peça-chave no regresso à democracia. O folheto distribuído na exposição é exemplar quanto a isto não só pelo que está escrito sobre estes períodos históricos, como até pelas imagens (2 em 5 são sobre o 25 de Abril). Na realidade depois de um período nos finais dos anos 80 e 90 em que a GNR, pelo rejuvenescimento e profissionalismo dos seus militares – quadros e praças – melhorou a sua imagem junto da opinião pública, nos últimos anos, não só nas obras publicadas como também em ocasiões como esta, é o olhar institucional sobre a sua história que se adapta aos novos tempos.
Veja aqui no Operacional a reportagem fotográfica sobre a exposição alusiva aos 100 anos da GNR:
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