EXERCÍCIO «REAL THAW 2009»
Por Miguel Machado • 6 Mar , 2009 • Categoria: 03. REPORTAGEM Print
O conflito é simulado, a prontidão é real. Exercício multinacional centrado na Base Aérea n.º 5 em Monte Real treinou meios aéreos e homens num cenário realista que preparou forças dos três ramos para as missões da actualidade. Paulo Gonçalves, apresenta-nos hoje este exercício que despertou o interesse de alguns dos nossos aliados, e que pode muito bem ter sido o embrião de uma actividade regular de treino operacional multinacional no nosso país.
O «REAL THAW 09» tratou-se de um exercício multinacional planeado pelo Comando Operacional da Força Aérea Portuguesa envolvendo durante 4 semanas várias bases aéreas, o Centro de Comando e Controlo da Força Aérea e cerca de 25 de aeronaves de vários tipos. Directamente empenhou cerca de 400 militares da Força Aérea Portuguesa, 40 do Exército Português das Operações Especiais e das Tropas Pára-quedistas, meios navais e Fuzileiros, estes integrados num exercício de instrução da Marinha Portuguesa.
Os EUA participaram com equipas de controladores aéreos tácticos, a Dinamarca com 4 F-16, Espanha com 4 F-18 e a NATO com um “avião-radar”, o E3A.
No total estiveram envolvidos no exercício, na acção e no apoio, cerca de 2.600 militares.
O centro nevrálgico deste exercício foi a Esquadra 301 na Base Aérea n.º 5 (em Monte Real) e as acções desenrolaram-se muito na região de Seia (Serra da Estrela).
O “Real Thaw” foi desenhado para possibilitar o treino de: Escolta de Alvos Lentos (Helicópteros); Escolta de Colunas de Viaturas Terrestres de Ajuda Humanitária; Apoio Aéreo a Forças Terrestres em Ambiente Urbano; Operações Compostas de Ataque Aéreo (COMAO – multiplicidade de aeronaves numa mesma missão); Extracção de Elementos Militares e Não-militares, com e sem Ameaça Aérea; Apoio Aéreo a Operações Especiais; Lançamento de Carga Aérea e de Pára-quedistas; Busca e Salvamento; Operações Aéreas em Ambiente Marítimo; Assalto e Protecção de Aeródromos; Trabalho com Controladores Aéreos Tácticos (TACPs).
Neste exercício os F-16 da Força Aérea Portuguesa usaram pela primeira vez a nível de treino operacional os novos “targeting pods”, equipamentos recebidos no último trimestre de 2008 e que finalizaram os testes em Janeiro 2009. Estes dispositivos conseguem mostrar aos pilotos as imagens (em vários formatos: infra-vermelhos, luz normal, grande zoom, etc.) do que se passa no terreno, podem fazer a designação de alvos com laser (para largada de armas inteligentes sem apoio de terra) e conseguem transmitir essas mesmas imagens de uma aeronave para outra, para as forças no terreno ao para o Comando das Operações.
A ESPECIFICIDADE DO «REAL THAW 09»
Ao contrário de outros exercícios aéreos este não se dedica exclusivamente às tripulações das aeronaves, nem se resume ao combate ar-ar. As missões de Apoio Aéreo Próximo (CAS) às forças no terreno, com simulação de largada de armas inteligentes, foram a pedra basilar da maioria das missões. Contudo, as novas missões de Apoio Aéreo Próximo distanciam-se daquelas treinadas para cenários de Guerra-fria. Actualmente, as simulações focam os conflitos assimétricos, com preocupações humanitárias a decorrer em simultâneo com acções de combate, onde os danos colaterais são cada vez menos admitidos.
Importante será também levar em consideração, que a presença de outras Forças Aéreas e unidades do Exército/Marinha trás realismo ao exercício. Efectivamente, todo o processo de recepção, acomodação e integração táctica de unidades aéreas estranhas à Base de Monte Real, não é uma tarefa menor, sendo mesmo motivo de insucesso operacional quando não gerido com proficiência e eficácia.
No terreno, treinam-se operações de Apoio Humanitário, dificultadas por contra-insurgência e actividades irregulares de combate, num ambiente que não é tão permissivo, quanto se julgava numa primeira análise.
A imaginação e a experiência dos Oficiais de Intelligence, angariada em vários teatros de conflitos reais, lideram a sequência dos eventos, buscando sempre o ponto de quebra dos jogadores em cada acção.
Durante o REAL THAW 09, o combate apoiado na vertente electrónica teve um lugar de destaque. Desde as apresentações nas salas de briefing, aos Centros de Comando e Controlo, até à partilha de informação, “em tempo real”, entre os combatentes no terreno e as tripulações das aeronaves. Tudo é feito numa cadência vertiginosa de várias situações de conflito, onde o elemento humano da solução tende a falhar, quando não está devidamente preparado.
MISSÕES TREINADAS
Durante o REAL THAW 09, foram treinadas, entre outras, as seguintes actividades: Planeamento de missões (combinadas e conjuntas); Briefing e debriefing de missões (combinadas e conjuntas); Lançamento de pára-quedistas e simulação de lançamento de carga aérea; Inserção de unidades de Operações Especiais; Escolta aérea a alvos lentos (helicópteros); Escolta e protecção aérea a colunas de veículos terrestres com ajuda humanitária; Apoio Aéreo Próximo a Unidade às nossas forças no terreno; Combate ar-ar e Defesa Aérea; Ataque ao solo com munição real de canhão (Carreira de Tiro de Santa Margarida);Transferência de imagem aérea dos aviões de combate para os helicópteros de assalto e unidades em terra, utilizando o novo equipamento “Targheting Pod” dos F16; Evacuação e Resgate aéreo de Não-combatentes e VIPs; Resgate de tripulantes de aeronaves abatidas; Presença e demonstração de força aérea; Assalto e segurança de aeródromos e aeronaves; Comando e Controlo Táctico de Operações Aéreas; Guerra electrónica; Transporte aéreo táctico; Operações de Defesa Aérea em ambiente Marítimo; Relação com os Órgãos de Comunicação Social;
A PRESENÇA DE ESTRANGEIROS
A presença de outras forças aéreas no REAL THAW 09, não é uma surpresa. Na Europa não existe nenhum exercício com esta tipologia. O único evento com estas características é o Exercício GREEN FLAG da Força Aérea dos Estados Unidos da América. Ali tem lugar várias vezes ao ano durante duas semanas na Base Aérea Norte-americana de Nellis – Estado do Nevada – envolve mais de 5000 militares no terreno e cerca de 75 aeronaves em voo, numa multiplicidade de cenários. Assim, a elaboração de um exercício deste género, em Portugal (evitando um deployment trans-atlântico) e na época de Inverno (quando quase não se pode voar no Norte e Centro da Europa) é muito atractivo para as forças aéreas aliadas.
O “Operacional” agradece o apoio do Centro de Audiovisuais da Força Aérea a quem pertencem as imagens e o vídeo deste artigo.
Monte Real e Seia, F-16, C-212, Alouette III e SOGAs
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