ENGENHARIA MILITAR TESTA CAPACIDADES
Por Miguel Machado • 2 Jun , 2015 • Categoria: 03. REPORTAGEM, EM DESTAQUE PrintA transposição de obstáculos naturais ou construídos pelo homem é uma das capacidades da Engenharia Militar, quer no campo de batalha naquilo que se designa por “Apoio de Combate”, quer no apoio a entidades civis, usualmente em situação de emergência grave e a pedido da Autoridade Nacional de Protecção Civil. O “Orion 15” está em curso, terá influência em dois grandes exercícios multinacionais que se realizarão em Portugal, e será objecto de trabalho mais desenvolvido no “Operacional”. Aqui fica um aspecto sectorial mas importante, um teste às capacidades da Engenharia Militar do Exército Português.
Neste grande exercício que decorre de 18 de Maio a 4 de Junho, nos concelhos de Abrantes, Constância, Chamusca, Golegã e Vila Nova da Barquinha, toda a Componente Operacional do Sistema de Forças do Exército está a ser posto à prova e será avaliado. O Operacional foi assistir junto ao Castelo de Almourol, por sinal um “ex-libris” da Engenharia Militar Portuguesa, à operação de transposição do Rio Tejo que parte das forças empenhadas teve que fazer para prosseguir a sua missão.
Só para situar a acção concreta deste artigo no contexto do exercício, diremos, em linhas muito gerais, que um batalhão da Brigada de Intervenção, equipado com viaturas Pandur II 8X8, e o Posto de Comando Táctico do exercício, com viaturas M-113, se deslocavam numa “marcha para o contacto” (ou seja íam deliberadamente à procura do inimigo), para o atacar, havendo por isso a necessidade de transpor rapidamente os obstáculos que surgissem, neste caso um de grandes dimensões como o rio Tejo. Fique claro, como ensinam os manuais militares, que a transposição em si não é a finalidade principal da operação, essa é, colocar a força de combate em condições de atacar e derrotar a força opositora. Mas…sem os meios e competências da Engenharia, neste caso da Companhia de Pontes do Regimento de Engenharia n.º 1 (Tancos, onde até há muito pouco tempo estava a Escola Prática de Engenharia, e onde historicamente sempre têm estado os “pontoneiros” portugueses), a força combatente ficaria bloqueada.
A travessia deve ser feita tão rápido quanto possível, as primeiras forças a transpor o obstáculo montam um perímetro de segurança – cabeça-de-ponte – que garanta o normal desenrolar da acção.
Embora possa não parecer esta actividade não sendo de extraordinária complexidade também não é tão simples como muito julgarão. Há uma série de factores que podem condicionar a travessia, alguns muito básicos mas que carecem de atenção prévia, reconhecimento. A consistência das margens, até onde conseguem chegar os trens de navegação, o acesso aos pontos de embarque/desembarque, obstáculos no rio, correntes, etc, por isso também a acção é acompanhada por embarcações para acudir a alguma emergência. Trata-se de um exercício as regras de segurança são cumpridas. E demora o seu tempo! Habituados que estamos a ver “cenas destas” em filmes de guerra ou até em demonstrações militares, onde tudo é concentrado no tempo e no espaço para permitir uma boa visualização, por vezes esquecemos que quando as coisas são feitas “a sério”, em tempo real, os procedimentos adequados, quer técnicos quer tácticos, e os imponderáveis da realidade, consomem tempo!
Neste caso, a totalidade da Companhia PANDUR/NRF 16 (mais de uma dezena de viaturas) e o Posto de Comando Táctico, demoraram cerca de uma hora e meia a fazer a transposição do Tejo, sem problemas de maior que o “engenho e a arte” não resolvessem! Deve no entanto ter-se em consideração, por exemplo, que as viaturas íam chegando ao rio, espaçadas no tempo, e não havia propriamente uma “fila de espera”, o que naturalmente, a ser detectado, constituiria um alvo remunerador para a artilharia opositora.
Melhor do que palavras, a reportagem fotográfica mostra a acção dos militares do Pelotão de Apoios Flutuantes da Companhia de Pontes, nesta travessia e nas legendas tentamos chamar a atenção para alguns detalhes.
O que vimos foram trens de navegação – “jangadas” – da Ponte Flutuante Ribbon, os quais foram manobrados, cada um por dois por barcos Schottel. Não vimos mas mostramos em fotos de arquivo as viaturas de transporte deste equipamento, os MAN 4520.
Uma nota final para algo que não está na reportagem mas julgamos deve ser dito. As pontes militares, estas que vimos e outras, são uma capacidade única, mais uma, que o Exército Português tem e que muito naturalmente coloca em missões de apoio às entidades civis sempre que tal é solicitado. Estas em concreto (as Ribbon) já foram usadas nos últimos anos em apoio da Coudelaria de Alter, na ilha do Lezirão (Azambuja) ou da Câmara Municipal da Golegã, na lagoa de Alverca, aqui uma desta pontes foi montada noutra modalidade, com um vão de 62m. Mais utilizadas por entidades civis, e em resposta a calamidades naturais, são as pontes fixas (Pontes Bailey e Treadway), as quais já foram empregues na Madeira, Odemira, Torres Novas, Coruche e outros locais, muitas destas mantendo-se anos, com manutenção regular executada pelos militares de engenharia.
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