BÓSNIA, MEMÓRIAS DE 1996
Por Miguel Machado • 2 Dez , 2010 • Categoria: 05. PORTUGAL EM GUERRA - SÉCULO XX, EM DESTAQUE PrintRelembra-se aqui uma das etapas menos conhecidas do grande público sobre a participação portuguesa na Implementation Force da NATO na Bósnia. Um pequeno grupo de militares, de várias Armas e Serviços do Exército, o Destacamento de Ligação, avançou para o terreno em 5 de Janeiro de 1996. Com os pés bem assentes no chão, lidando com uma realidade por vezes cruel, quer no terreno quer na retaguarda em Lisboa, criaram as condições que permitiram a entrada atempada das forças portuguesas na Bósnia.
Por vários motivos, alguns até possivelmente justificados, mas cujos reais detalhes até hoje permanecem desconhecidos, o Destacamento de Ligação (DL), constituído pelos primeiros militares do Exército a participar na também primeira operação levada a cabo por este ramo na Europa desde a 1ª Guerra Mundial, teve, no seu todo, uma estadia relativamente curta no teatro de operações. Se o tempo de permanência não foi longo, o seu trabalho foi de importância capital para a entrada atempada, e nas melhores condições possíveis, do “grosso das tropas” no sector atribuído.
Antes de continuar um parágrafo para dizer que esta afirmação não quer de modo nenhum retirar mérito à participação de militares portugueses, do Exército e Força Aérea, como observadores ou em equipas médicas, na ex-Jugoslávia, desde 1991, ou ainda da Força Aérea e da Marinha, nas operações sobre esta região ou no Adriático desde 1992. Nem sequer valorizar o que vai ser dito em relação aos verdadeiros heróis desta missão inicial na Bósnia, os que se lhes seguiram, os militares do 2º Batalhão de Infantaria Aerotransportado (2º BIAT) e do Destacamento de Apoio de Serviços (DAS), que tantas dificuldades, privações, riscos, feridos (1) e mortos (2), suportaram.
Quer apenas dizer, por um lado que na primeira operação terrestre lançada pela NATO, este Destacamento de Ligação abriu o caminho e, ao contrário do que muitos na altura por desconhecimento julgaram, teve um papel determinante nas primeiras semanas da operação. E por outro, tentar transmitir o espírito então criado, entre militares de várias armas e serviços do Exército com origens e percursos muito diferentes, o qual de tal modo neles se arreigou, que ocasionalmente (com uma ou outra falta) ainda se juntam para “almoçar e passar a tarde”.
Mas vamos à missão na Bósnia razão porque foi criado este destacamento.
O DL era constituído por 15 elementos (3) e tinha, à partida de Portugal, a missão genérica de efectuar a ligação às estruturas multinacionais nas quais a força portuguesa se ia integrar. A saber, a Brigada Multinacional Sarajevo-Norte de comando italiano, e a Divisão Multinacional Sudeste de comando francês. Todos os militares sabiam (melhor, julgavam saber!) para que funções iam.
O grupo, como já foi referido, era heterogéneo: parte do DL tinha experiência anterior em missões no “exterior”. Havia pessoal que tinha feito a guerra em África, outros que já haviam cumprido missões como observadores na ex-Jugoslávia e outros ainda que tinham passado por Angola durante o processo de paz decorrente de Bicesse.
Para alguns a madrugada do dia 5 de Janeiro de 1996 e o aeroporto de Lisboa foi o momento e o local onde pela primeira vez se viram. À despedida de Portugal a presença do Chefe do Estado-Maior do Exército no aeroporto, àquela hora, se por um lado constituiu (agradável) admiração, por outro deu noção da importância da missão e do que se esperava do grupo.
Nas horas de viagem em voo comercial que se passaram entre Portugal e a Croácia, destino nesse primeiro dia, houve oportunidade de trocar impressões, receios, expectativas em relação ao futuro imediato e ao que para trás ficava. O nó na garganta sentido ao sair de casa ia-se lentamente desfazendo.
Se por um lado os movia um elevado espírito de missão, também o convencimento que “podíamos ir para a guerra” e o afastamento da família, sem a mínima noção de quando voltaríamos a percorrer o caminho inverso – falava-se tanto em 3 meses como em 1 ano de estadia (4) – causava um misto de euforia juvenil e nostalgia familiar.
Numa escala a meio da noite em Zagreb, foram contactados por alguns militares portugueses em missão naquelas paragens. Foi bom ver camaradas de armas num país estrangeiro, dispondo-se para apoiar em caso de necessidade.
À chegada a Split, sempre viajando em voos comerciais, embora carregando toda uma parafernália de material, desde vários fardamentos de campanha ao colete anti-bala, equipamento NBQ completo, capacete balístico (etc.), o primeiro contacto com o teatro de operações. Pareceu na altura tudo bem organizado, com um oficial português (da Força Aérea) à espera no aeroporto e viaturas militares francesas que garantiram o transporte para passar a primeira noite num motel. Segundo depois se soube o referido oficial, em serviço num cargo internacional na base logística da IFOR que o Reino Unido dirigia em Split, foi contactado por telefone, de Portugal, para fazer o favor de nos dar apoio nesta escala. Nada tinha a ver com a missão mas foi eficiente.
No dia seguinte um C-130 francês ao serviço da IFOR transportou o DL de Split para Sarajevo, a capital Bósnia. Tudo corria sobre rodas.
Os procedimentos eram os do tempo da guerra: colete e capacete dentro do avião à aproximação da cidade, load-masters atentos nas janelas posteriores para lançar “engodos”, descida ” à vertical” e, após a aterragem a aeronave dirigiu-se para junto da aerogare. Saída rápida, descarregar para o chão os “kit-bags” e demais material, o “C” fez-se à pista e voltou a levantar voo.
Recebidos por militares italianos, um dos quais pára-quedista conhecido num longínquo “Display Determination” em Itália, embarcou-se nas suas pequenas viaturas blindadas. Através das escotilhas destes veículos, Iveco “Protector”, idênticos aos que muitos anos mais tarde equipariam a GNR no Iraque, e a que os italianos chamavam maldosamente “Scarafon” (caixão), mal se via a “lendária” Sarajevo.
Estávamos ali, no cenário que nos meses e anos anteriores nos entrava pela casa dentro, via televisão, onde a guerra que muitos julgavam ser impossível, aconteceu mesmo. Na Europa.
Espreitando, ouvindo os comentários dos “veteranos da ONU” que integravam o DL, pensei: “Estou no cenário de um filme do Mad Max“. Bairros inteiros transformados em ruínas à força de canhão e metralha, pouquíssimas luzes (não havia energia eléctrica), algumas fogueiras, fumo do aquecimento a lenha de milhares de habitações, estradas cortadas por barreiras construídas com contentores, viaturas blindadas destruídas na beira das estradas, enormes panos pendurados entre prédios para “tapar” os campos de tiro dos “snipers”.
A dimensão da destruição, tantas vezes vista nas imagens televisivas, perante as quais muitas vezes pensamos, “isto não deve ser tanto assim, a TV só mostra o pior“era, neste caso, sem dúvida muito maior do que aquilo que havia imaginado.
Instalados em Vogosca, um subúrbio da capital Bósnia, num semi-destruído hotel de nome “Biokovo”, logo o DL começou a tentar organizar-se para cumprir a sua missão. Sem viaturas próprias, com um telefone satélite, e…muita vontade de fazer aquilo para que tinha sido criado: estabelecer a ligação à brigada e à divisão onde o nosso batalhão se incorporaria.
Não foi nada fácil e sabíamos que dentro de 9 dias, a 16 de Janeiro, chegariam a Split em aviões C-130 da Força Aérea Portuguesa os primeiros militares do 2º BIAT e do DAS. Estava tudo por fazer e nós, no “Hotel”, rodeados de medidas de segurança rigorosas, em zona ainda sob controlo sérvio, à mercê da boa vontade dos nossos aliados para qualquer movimento. Mas de facto e apesar de alguns mal-entendidos inevitáveis nestas circunstâncias, em que nenhuma das forças em presença tinha meios em excesso (antes pelo contrário), a colaboração do italianos e também dos franceses, “empurrados” pelo Destacamento de Ligação, foi determinante para a entrada em sector do 2º BIAT.
Logo a 10 de Janeiro conseguiu-se uma reunião em Pale, sede do governo da República Srpska (entidade sérvia da Bósnia), para se obterem os locais onde aquartelar o batalhão. Sim, porque as unidades da NATO não podiam chegar e ocupar os locais que quisessem. Tudo tinha que ser negociado (e pago!) com as autoridades políticas locais. Em Portugal foi difícil a muita gente com experiência na guerra em África – era essa a geração que nesta altura (1996) ocupava vários patamares de decisão militar – perceber que não podíamos escolher um local e…montar quartel.
Imagina-se hoje que uma semana antes de uma força sair de Portugal, com mais de 900 militares e 200 viaturas, para uma operação de apoio à paz, ainda sem saber onde se instala? Não é difícil calcular a pressão que quem estava a tratar deste assunto sentia, a escassos dias dos nossos aviões começarem a chegar.
Recordemos que a Brigada “Garibaldi”, ali denominada BMN SN (Brigada Multinacional Sarajevo-Norte), tinha começado a chegar à Bósnia uns 4 ou 5 dias antes do DL e as suas limitações e dificuldades próprias também eram muitas. Aliás na altura desta primeira reunião em Pale ainda não havia decisão superior sobre o sector exacto do batalhão português. Ainda assim localidades como Rogatica, Kukavice, e Ustipraca foram atribuídas aos portugueses. Por definir estava a ocupação da “bolsa” de Gorazde, a qual, passados dias, afinal, também nos caberia.
Note-se que os locais “escolhidos” estavam na sua generalidade semi-destruídos. Impossíveis de habitar sem obras, e muito menos naquela altura do ano, com a neve a começar a cair.
Para quem nunca viveu num país ou local onde neva frequentemente não será fácil imaginar o que seja, chegar a um espaço em ruías, e dizerem-lhe: “é aqui que vais ficar, instala-te!” Em África ou em Timor isso é possível, ali, sem alguns materiais básicos, morria-se.
O DL “partiu-se” em vários núcleos: uns foram para Rogatica tratar de conseguir a reparação do “Hotel Park”, local que seria durante os anos seguintes o posto de comando dos batalhões portugueses na Bósnia (5). Dois ou três militares portugueses, sozinhos, em Rogatica um dos bastiões dos sérvios da Bósnia, a dormir na cadeia da cidade. Sendo um engenheiro, outro antigo observador militar com conhecimentos de servo-croata, conseguiram avaliar as necessidades e negociar parte da recuperação do edifício. Foram os próprios militares do 2º BIAT, após a sua chegada, que suportaram o grosso do trabalho, e os materiais (excepto a madeira) tiveram que vir de Portugal. Anos de guerra e de boicotes internacionais haviam deixado a região numa miséria absoluta.
Em Sarajevo o DL, depois de graves dissabores com a indisponibilidade da Divisão “francesa” em incorporar no seu Quartel-general oficiais portugueses (apenas aceitou o destinado ao Bureau Communication Information e mesmo este por pressão do Public Information Officer da IFOR), começou a funcionar como um mini estado-maior (informações, operações, logística e assuntos civis). Ou seja, as missões destinadas à saída de Portugal para o pessoal do DL, foram localmente adaptadas às necessidades.
A 16 de Janeiro como previsto, 2 C-130 da Força Aérea transportaram o Destacamento Avançado do 2º BIAT e do DAS, num total de 60 militares e as primeiras viaturas portuguesas no terreno. Foram recebidos em Split por parte do DL que havia viajado num SA 330 “Puma” do Exército Francês desde Sarajevo, num memorável e arrepiante voo táctico nocturno por entre montes e vales da Bósnia.
O 2ºBIAT rumou a Rogatica e o DAS a Vogosca, às instalações da antiga fábrica da Wolkswagen, zona muito massacrada pela guerra por ter sido parte da linha de confrontação. Para tornar a zona minimamente habitável a limpeza efectuada trouxe ao de cima uma enorme quantidade de engenhos explosivos não detonados e zonas minadas no meio de toneladas de lixo e destroços.
Por esta altura o DL sai de Vosgosca-Biokovo, onde nem uma mesa ou uma cama de campanha havia – era “debaixo de telha”, mas no chão que se dormia – , e instala-se na destruída maternidade de “Zetra” (junto ao estádio Olímpico de Sarajevo), com o comando e estado-maior da brigada “italiana”. Parecia uma evolução enorme. Não havia janelas, a chuva e a neve entravam na sala que servia de “camarata” à maior parte do DL, mas já havia uma “sala de operações”, onde permanecia um oficial de serviço e dormia o oficial responsável pela ligação ao comandante da brigada “Garibaldi”.
Na “zona de comunicações avançada” na Croácia oficiais do DL prepararam a chegada dos aviões fretados que trariam o grosso da força portuguesa e chegariam até ao final de Janeiro. Um oficial em Spalato, junto ao aeroporto de Split e dois outros em Ploce (porto Croata), no Destacamento Logístico Italiano que estava inserido numa base logística francesa. Coordenados a partir de Sarajevo pelo comandante do DL e seu “estado-maior” asseguraram a entrada das tropas portuguesas a tempo e horas na missão da Bósnia.
À distância pode parecer que não foi nada de mais. Mas atente-se neste exemplo para dar uma dimensão dos problemas que se colocavam ao DL. A força portuguesa transportou para o teatro de operações, além de cerca de 1.000 militares (note-se que hoje as nossas forças no exterior têm variado entre 150 e 300 militares), 208 viaturas, 83 atrelados e 128 contentores de grandes dimensões, na sua quase totalidade num navio mercante fretado. Este navio atracaria em Ploce poucos dias depois do avião que transportava (para Split) os condutores das viaturas. Estes foram para Ploce a partir de onde conduziriam as suas viaturas para a zona de operações. Até aqui tudo bem e só foi necessário coordenar com italianos e franceses para solicitar viaturas de transporte para duzentos militares e respectivo alojamento e alimentação. Agora em relação aos contentores que era necessário transportar para Sarajevo e Rogatica? Cada contentor exigia uma viatura porta-contentores, a brigada italiana que nos deveria apoiar tinha 4 ou 5 destas viaturas, algumas das quais estavam imobilizadas por avaria e mais de 400 contentores próprios em espera para igual transporte! Dentro dos contentores estava todo o equipamento necessário à missão (excepto claro o equipamento individual). Parecia uma equação impossível de resolver e em Lisboa já se pensava em adiar o envio do grosso do contingente (que deveria sair de Portugal a 25 e a 29 de Janeiro). Era necessário quem transportasse 128 contentores a uma distância de 200 quilómetros, em estradas miseráveis, pontes improvisadas e um sem número de dificuldades. Valeu na altura a “negociação directa” do DL com a Divisão para que uma unidade de transportes da Legião Estrangeira Francesa (alguns conhecimentos pessoais fizeram toda a diferença!) assegurasse o transporte dos contentores e os depositasse onde necessário. Não sem peripécias várias como aquela que à chegada a Sarajevo, o comandante da coluna porta-contentores, um oficial francês, informou que recebera ordem para não ir a Rogatica e ficaria ali. Mais uma vez o capitão da logística do DL teve que mover os seus bons ofícios para, 1º, saber o que se estava a passar com esta alteração ao já combinado e, 2º, conseguir que a missão fosse integralmente cumprida. E foi.
Foi possível cumprir as datas a que Portugal se havia comprometido com a NATO a colocar as suas forças no terreno.
Com o transporte de mais material pesado e viaturas assegurado pelo NRP “Bérrio” para Ploce, em Maio, voltou o problema da colocação do material em tempo, no sector do batalhão. Desta vez, além dos italianos até os espanhóis vieram em nosso apoio, mais uma vez “empurrados” pelo DL. É que a disponibilidade dos franceses, na data, era nula porque tinham outros empenhamentos e a dos italianos insuficiente. Neste caso com mais uma série de peripécias nomeadamente com várias viaturas enviadas de Portugal para reforçar a missão, que depois de começarem a andar na Bósnia, avariaram e chegaram rebocadas ao destino.
Os exemplos são muitos, houve aliás, sobretudo nas primeiras semanas, acções diárias das quais poucos tomaram conhecimento (e outros mesmo tomando preferiram, mais tarde, ignorar) que muito contribuíram para que o nome do Exército Português das nossas Forças Armadas e no fundo de Portugal, fosse considerado credível junto dos nossos aliados.
Note-se, não havia ali telemóveis nem internet! Muitas destas deslocações de coordenação eram feitas por um oficial e um condutor, por montes e vales gelados completamente à mercê de qualquer imponderável. Mas se não fosse assim, se não se arriscasse?
O Destacamento de Ligação saído de Portugal em Janeiro de 1996, superiormente comandado e composto por oficiais e um sargento de várias armas e serviços, com experiências anteriores muitos diversificadas, com reduzido conhecimento mutuo, conseguiu criar, desde o inicio, um espírito de corpo senão exemplar, muito próximo disso. Quem já participou em missões no exterior do território nacional sabe bem as tensões que se geram, internamente, dentro daquele “pequeno mundo” que é uma companhia, um batalhão ou outra qualquer força. Também o DL era um “pequeno mundo”, e nele foi conseguido, até ao início do seu desmembramento, em Abril de 1996, uma dedicação à missão e camaradagem que muito contribuíram para o seu bom desempenho e, mais importante, criaram como era sua obrigação, condições para o bom desempenho das forças portuguesas envolvidas, fosse o batalhão, o destacamento de apoio de serviços, ou mesmo o destacamento de controlo aéreo táctico da Força Aérea.
Contra ventos e marés, localmente ou na “retaguarda”, tendo sempre em vista o interesse da Instituição e do País, vivendo inicialmente em condições muitíssimo difíceis – não raras vezes ouvi os camaradas que ali estavam e haviam cumprido comissões na guerra do Ultramar dizer que, deste ponto de vista, a Bósnia era muito pior! – mas que foram consideravelmente melhoradas com o passar dos meses, o DL cumpriu o seu dever.
Antecipou problemas, propôs soluções, resolveu as situações mais incríveis e inesperadas que se possa pensar, do “detalhe insignificante” que numa situação como a que se vivia podia emperrar a actividade da força, até à “negociação directa” com as autoridades francesas ou espanholas para o transporte em tempo útil de equipamentos pesados, passando pelo “processamento continuado”, todos os dias, semanas seguidas, de um número de jornalistas portugueses nunca visto antes desta operação, nem depois em qualquer outro teatro de operações das nossas Forças Nacionais Destacadas (6).
Do major que, sozinho com um condutor, em Split tratava de todos os assuntos relativos ao movimento de aeronaves portuguesas naquele aeroporto – e não eram nada poucas no inicio da missão, desde os de sustentação logística ao transporte de VIP’s e toda a espécie de observadores que queriam ver um teatro de operações NATO – aos oficiais que nas repartições do estado-maior da brigada acompanhavam o planeamento das missões atribuídas ao batalhão português, o DL foi, discretamente diga-se, um elemento essencial nos primeiros tempos de missão.
A missão na Bósnia em 1996 foi sem dúvida uma dura aprendizagem para os militares envolvidos, mas também para aqueles que em Portugal, à distância, procuravam contribuir para o sucesso da mesma. E foram muitos, mas unidades pára-quedistas e não só.
Foi sem dúvida a partir desta missão que grandes melhorias, quer nos equipamentos quer nos procedimentos, foram introduzidos no Exército.
E provou que o “clubismo pára-quedista” – embora possa existir em algumas situações de menos responsabilidade – não se deu a conhecer, sendo, ao contrário, bem visível um saudável espírito de cooperação e entreajuda, mesmo de amizade, entre militares com boinas e bivaques de cores muito diferentes.
Miguel Silva Machado
(1) É muitas vezes esquecido que nos primeiros 6 meses de missão na Bósnia as forças portuguesas sofreram 11 feridos, vitimas não só de acidentes como de explosões de minas.
(2) No primeiro ano de missão, 4 mortos, 2 em cada semestre.
(3) Na Bósnia porque 2 oficiais permaneceram em Itália para tratar de assuntos relativos ao apoio a prestar por este país ao nosso contingente.
(4) O desconhecimento das condições em que se participava na missão era enorme. Basta dizer que a legislação básica sobre esta matéria só foi publicada em Dezembro de 1996 e em Fevereiro de 1997, ou seja um ano depois! Até lá vigoraram directivas e despachos do Chefe do Estado-Maior do Exército.
(5) Na altura foi muito criticada esta escolha. Nenhuma das unidades do Exército (9 batalhões) que por lá passaram até Fevereiro de 2000, quando a força portuguesa mudou para o Visoko, mudou de instalações!
(6) Nos primeiros tempos de Bósnia acompanharam esta missão, 20 jornalistas e técnicos, portugueses, numa base diária, semanas seguidas. Nos primeiros 6 meses de missão, a força somou a visita de 180 elementos dos Órgãos de Comunicação Social.
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