A TP9/MP9 À EXPERIÊNCIA NO AFEGANISTÃO
Por Miguel Machado • 18 Jan , 2009 • Categoria: 07. TECNOLOGIA PrintPaulo Venâncio serviu no Afeganistão como comandante da equipa de protecção pessoal do 2º Batalhão de Infantaria Pára-quedista que no 2º semestre e 2007 para ali destacou cerca de 150 militares. Nesse tempo de serviço teve oportunidade de protagonizar uma experiência infelizmente pouco vulgar entre nós: a experimentação em situação real de armamento novo. Em muitos países é normal que armas, viaturas, equipamentos diversos sejam testados em campanha antes de haver uma decisão de compra. Muitas vezes estes materiais são comprados em pequenas quantidades propositadamente para esse efeito. Portugal já o fez no passado, por exemplo durante a guerra em África chegaram a ser adquiridas pequenas quantidades de viaturas tácticas para testes, durante um ano, e depois, então, tomar decisões.
O presente artigo, cujo autor é Paulo Venâncio, inicia mais uma secção do “Operacional” – TECNOLOGIA – e é o relato de uma experiência vinda “da frente”, bem recente, e que se espera possa vir a ser seguida no futuro. OPERACIONAL.
A TP9/MP9 da Brüger & Thomet à experiência no TO do Afeganistão
A QRF / FND / ISAF X(1) projectada para o Teatro de Operações (TO) do Afeganistão foi a primeira força portuguesa a integrar uma Equipa de Protecção Pessoal (EPP) treinada e preparada para a especificidade da missão. Esta EPP constituída pelos 6 elementos da SecACar (Secção Anti-Carro) orgânica da 22.ªCPara (Companhia de Pára-quedistas) recebeu formação, treino e preparação no âmbito da protecção pessoal e de altas entidades durante a fase de aprontamento da Força para o Afeganistão.
Já no TO foi-lhe atribuída a missão de protecção do Comandante da FND nos seus deslocamentos no exterior de Camp Warehouse (CW) onde a QRF se encontrava aquartelada. Recaiu sobre a EPP a missão e responsabilidade da protecção pessoal de Altas Entidades, que por diversas vezes visitaram a QRF / FND / ISAF X, destacando-se o Ministro da Defesa Nacional, Dr. Severiano Teixeira, o Chefe do Estado Maior das Forças Armadas (CEMGFA), General Valença Pinto e o Sr. Dr. Miranda Calha, Deputado da Assembleia Geral da NATO.
Para melhor cumprimento da sua missão de protecção pessoal, a EPP para além do material orgânico de uma secção de pára-quedistas, estava ainda equipada, com pistolas-metralhadoras UZI, MP5K e uma MP9 / TP9 da Brüger & Thomet versão militar, gentilmente cedida para teste pelo representante da marca em Portugal.
A MP9/TP9 tem um design sem partes móveis destacadas, o que evita que as mesmas se prendam em roupas e outros equipamentos.
Estas características enunciadas, nomeadamente o peso e tamanho, torna a MP9/TP9 uma PM ideal para Equipas de Protecção Pessoal, Forças Especiais militares e policiais (em uso pela Delta Force-USA), tripulações de aeronaves e viaturas, polícia de giro, guarda de Porta de Armas, binómios cinotécnicos e segurança em cerimónias e uso à civil.
Outra das vantagens da MP9/TP9 é a sua construção exterior em polímero. Esta liga não enferruja, constituindo-se como uma arma indicada para a utilização em operações em meio aquático ou em condições climatéricas extremamente húmidas e chuvosas. O uso de polímero permite a opção de construção da arma em várias cores (preto, castanho, verde).
De salientar que o seu punho posterior garante-lhe uma excelente ergonomia, que aliado á coronha lhe confere uma posição de tiro extremamente estável. O carregador encontra-se no punho anterior. Este tipo de recarregamento, originalmente designado de “hands-find-hands”, é mais rápido e eficiente, permitindo um recarregamento em cerca de 1/3 do tempo do recarregamento de uma MP5.
Os carregadores são translúcidos (podendo ser em preto), para que o atirador possa visualmente conferir a quantidade de munições restantes, bastante importante durante situações de combate/stress. Mesmo para atiradores com muito treino, em situações de combate/stress, disparando em tiro automático é difícil contar as munições e por consequência saber quantas tem disponíveis em cada instante. Estes carregadores são fabricados em plástico extremamente durável e resistente, conferindo-lhe uma durabilidade significativa (vários anos) e em condições de uso extremamente exigentes. São fáceis de desmontar e resistentes a produtos de limpeza e químicos. A capacidade standard é de 15 e 30 munições, havendo também a opção por carregadores de 20 ou 25. O fabricante coloca também à disposição do próprio utilizador a opção de escolha da capacidade do carregador.
A cadência de tiro da MP9/TP9 é de 800-900 tpm (tiros por minuto), com uma margem de 1 interrupção de tiro por cada 5000 disparos, o que lhe confere uma performance superior às outras pistolas metralhadoras. O recuo da arma, também designado “coice”, é bastante reduzido permitindo uma boa precisão quando disparada em tiro automático.
A parte superior da arma possui uma calha Picatinny, podendo ainda ter outra opcional montada de lado, o que possibilita a aplicação de uma grande variedade de acessórios, nomeadamente aparelhos ópticos e de pontaria. Outras armas deste tipo necessitam de adaptações especiais para os mesmos efeitos. O aparelho de pontaria, constituído por anel e ponto de mira, é o adequado ao tiro necessário executar com esta arma.
A patilha selectora de fogo/segurança, de fácil uso para dextros e canhotos, é substituível e permite duas opções: tiro semi-automático/automático e tiro semi-automático/segurança. A arma em referência, utilizada no TO do Afeganistão possuía ambas as patilhas. Já está no entanto no mercado um novo modelo de patilha selectora de fogo/segurança que permite a selecção nas três modalidades. O gatilho, à semelhança das pistolas Glock, incorpora uma segurança automática que evita o avanço do percutor, caso este não esteja a ser completamente premido ou no caso de se verificar uma queda da arma.
A MP9/TP9 é uma arma de fácil desmontagem e manutenção. De origem, esta PM trás consigo um conjunto de sobressalentes consideráveis, nomeadamente o aparelho de pontaria, a patilha selectora de tiro, a mola recuperadora e haste guia, as peças e molas dos mecanismos.
Diversos países da NATO solicitaram à B&T o fornecimento de exemplares para testes, em detrimento de armas com novos calibres (5.7mm e 4.6mm), deixando transparecer que os calibres 5.7mm e 4.6mm não serão uma opção no futuro. Além dos condicionamentos logísticos aliados à aquisição e implementação de novos calibres no mercado, o motivo principal prende-se com a falta de provas e testes balísticos credíveis, ao contrário dos resultados obtidos de inúmeros e fiáveis testes efectuados e existentes ao longo dos tempos relativamente ao calibre 9mm (este calibre já inclui a munição perfurante de alta performance).
Bibliografia: Small Arms Review, Dezembro 2007
(1) Trata-se da designação oficial dada ao contingente português: Quick Reaction Force/Força Nacional Destacada/ ISAF X. QRF reporta-se ao tipo de força, que neste caso podia actuar em todo o território do Afeganistão, FND é o nome genérico dado a todos os contingentes que são enviados para o estrangeiro em missão para integrar forças multinacionais e ISAF X refere-se à 10ª rotação do comando da força multinacional desde o seu inicio.
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