A HISTÓRIA DO U-534
Por Miguel Machado • 17 Out , 2015 • Categoria: 14.TURISMO MILITAR, EM DESTAQUE PrintOs submarinos alemães, uma das armas mais temíveis e odiadas nos dois últimos conflitos mundiais pela destruição e morte de causavam, acabaram terminada a 2.ª Guerra Mundial por ir ganhando alguma indulgência, não só pela reconhecida coragem das suas guarnições – com um rácio de baixas terríveis – como pelos seus feitos. Hoje, submarinos do III Reich expostos recebem visitantes de todo o mundo. O Operacional foi ver o U-534 em Bikenhead, Merseyside, Liverpool, no Reino Unido.
O museu “U-Boat Story” onde se encontra o U-534, fica na margem esquerda do rio Mersey, em Merseyside, frente à cidade de Liverpool, naquele que foi o principal porto do Reino Unido após Noruega e França terem caído em mãos alemãs no ano de 1940. Ali chegam e dali partiam comboios navais durante toda a “Batalha do Atlântico” e era do quartel-general de “Western Approaches”, em Liverpool que toda essa actividade era coordenada. Aqui fica a resposta à primeira interrogação que a muitos se coloca quando nos deparamos com um submarino alemão naquelas paragens!
Vida operacional atribulada
Agora a história de como ali chegou o U-534, também merece ser contada! O submarino estava na Dinamarca quando o Almirante Doenitz , comandante da marinha do III Reich e sucessor de Adolfo Hitler após a morte deste, emitiu ordem de rendição aos submarinos espalhados pelo mundo. Eram 08H00 de 05MAI1945. O comandante, Herbert Nollau, 26 anos de idade, o militar mais velho a bordo, ignorou a ordem e navegou em direcção à Noruega. A Royal Air Force (RAF) detectou o movimento e enviou vários “B-24 Liberator” no seu encalce. Um foi abatido pelo U-534 – dispunha de armamento anti-aéreo potente, bitubo 37mm Flak M42U e 4 20mm Flak 38 – mas não conseguiu depois imergir sem ser atingido pelas cargas de profundidade de outro B-24, uma das quais caiu mesmo em cima do submarino e outra danificou o casco, começando a afundar-se, lentamente. 47 de 52 elementos da guarnição conseguiram salvar-se saltando para a água. 5, apanhados no interior, tentaram sair com equipamento de emergência, com o submarino a 67m de profundidade, 4 conseguiram, 1 morreu. Os sobreviventes foram transportados para a Dinamarca, tendo dois falecido no trajecto. Preso até Agosto de 1945, Nollau foi libertado e trabalhou normalmente em Frankfurt na República Federal da Alemanha até à sua morte, por suicídio, em 1967 ou 1968. Nunca explicou porque não se rendeu.
O U-534 pertencia ao tipo IXC/40 da Kriegsmarine, com grandes dimensões – 76m de comprimento (como referência os actuais submarinos da Marinha Portuguesa, classe “Tridente”, têm 67,9m) – e tinha um raio de acção de 11,400 milhas náuticas navegando à superfície (mais de 21.000 quilómetros, o que dava quase para transpor o Atlântico mais de 3 vezes sem reabastecer), e de 63 em imersão.
O submarino foi construído em Hamburgo e lançado à água em 1942, tendo no final deste ano entrado no serviço activo com o único comandante que haveria de conhecer. Curiosamente este submarino teve uma vida atribulada e pouco heróica! Esteve pelos mares da Dinamarca em testes e treino, rumou à Noruega para missões operacionais e andou pela Gronelândia já em 1944, dedicando-se sobretudo à recolha de informações meteorológicas, muito importantes para determinar missões contra os comboios navais aliados e defesa de ataques aéreos. Actividade menos arriscada que atacar navios Aliados, mas com a vida a bordo igualmente dura. Os motores e baterias ocupavam 1/3 do espaço a bordo, e o restante era ocupado pelos 52 militares da guarnição, 22 torpedos, munições para as antiaéreas, 18 toneladas de alimentos e água e uma miríade de peças e acessórios indispensáveis ao funcionamento do submarino por longos períodos sem apoio.
Ainda em 1944 o U-534 estava na base de submarinos de Bordéus (França) a receber algumas modificações (instalar um “snorkel” para poder navegar submerso a diesel e ao mesmo tempo carregar as baterias). A instalação foi mal executada e no trajecto para a Noruega teve que emergir por estar “cheio de fumo”, sendo detectado por aviões aliados. Atacado por um “Vickers Wellington” da RAF, as armas anti-aéreas levaram a melhor e abateram o avião, conseguindo chegar a Kristiansand na Noruega. Transferido depois para Stettin (actualmente na Polónia) e a seguir para Kiel na Alemanha devido ao avanço do Exército Vermelho, sofreu grandes reparações, tendo deixado a Alemanha em direcção ao seu destino final, entre a Dinamarca e a Suécia (ilha de Anholt), a 3 de Maio de 1945, 2 dias antes do seu afundamento.
Nova vida frente a Liverpool
A misteriosa atitude do capitão do U-534 originou durante anos muitas especulações – tesouros, transporte de líderes nazis, etc – e talvez isso tenha feito despertar a atenção de Aaje Jensen, um mergulhador dinamarquês que o localizou junto a Anholt, em 1986. Estava “em bom estado” e logo se pensou em o retirar do local, mesmo que considerações de ordem política – a Alemanha opunha-se – legal, organizacional e financeira tornassem difícil a operação. Juntou-se o mergulhador a um editor e empresário, também dinamarquês, Karsten Ree, e o assunto teve seguimento. Em 1993 o U-534 voltava à superfície, inteiro, com 8 antigos elementos da tripulação e 4 do “Libertador” que o afundou a assistir, numa delicada operação realizada por uma empresa holandesa, Smit Tak, e o apoio da Marinha Dinamarquesa que retirou do submarino e destruiu 13 torpedos e centenas de munições das antiaéreas. Curiosamente esta marinha recolheu e guardou “3 torpedos de guiamento acústico”. Nenhum tesouro foi encontrado mas sim uma incrível panóplia de artigos de uso diário, muitos hoje expostos no museu que visitamos e que nos dá uma imagem de como era a vida a bordo.
A opção tomada para expor este submarino, foi a de o cortar em 4 secções – de modo tão rigoroso que se necessário for é possível voltar a montá-lo, garante o museu – mantendo o seu interior exactamente como foi retirado do fundo do mar em 1993, sendo a visualização feita do exterior através de vidros e câmaras vídeo. Esta modalidade pouco vulgar de exposição, não está explicada no local e pode bem ter sido tomada por questões de ordem financeira e até do espaço disponível onde se encontra o submarino. Sendo certo que permite uma excelente visualização do exterior, o mesmo não se pode dizer do interior. O edifício de apoio, esse sim, tem uma completíssima colecção de objectos usados no submarino, está muito bem organizado e inclui uma série de elementos, tudo ou quase, sobre a história do U-534, num grande número de suportes, áudio, vídeo e fotografias. Inclui ainda para os mais novos vários jogos que permitem simular actividades típicas a bordo.
Como chegar?
O museu está a poucos minutos de metropolitano de Liverpool, ou a mais um pouco se fizer a viagem de ferry, e a entrada custa (adultos) 7,50£. Há pacotes que incluem a um pequeno cruzeiro no rio Mersey. Está aberto todo o ano das 10H30 às 17H00, exepto no Natal e Ano Novo. Na entrada/saída do Museu tem uma loja com produtos alusivos ao U-534 e a vários temas navais e no acesso aos ferrys de passageiros, há um agradável café/restaurante, o “Home Cafe”.
Veja aqui mais informações sobre o museu: U-Boat Story
Bibliografia consultada:
“The Story of U-534” (brochura sem data/editor adquirida no museu);
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