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A BATERIA HARDING EM GIBRALTAR

Por • 23 Fev , 2016 • Categoria: 14.TURISMO MILITAR, EM DESTAQUE Print Print

A história desta bateria começa em 1844 quando foi construída junto à Ponta Europa, em Gibraltar – o seu extremo Sul – e teve várias mutações ao longo dos anos, a última em 2013. Pretendemos mostrar, além da bateria em si, o modo como um espaço algo inóspito pode ser reformulado para se tornar uma atracção turística de relevo, contribuir para a divulgação da história e a preservação do meio ambiente, e o invulgar papel aqui desempenhado por alguns portugueses.

O principal argumento militar da bateria - e hoje de uma visita - o canhão de 12,5 polegadas (317,5mm), vendo-se ao fundo Algeciras (Espanha) e navios a entrar na Baía de Gibraltar, onde se encontram os portos das duas cidades

O principal argumento militar da bateria – e hoje de uma visita – o canhão de 12,5 polegadas (317,5mm), vendo-se ao fundo Algeciras (Espanha) e navios a entrar na Baía de Gibraltar, onde se encontram os portos das duas cidades

Faz parte de todos os guias, mapas e folhetos turísticos distribuídos a quem visita Gibraltar. O local tem a atracção natural de ser a “Ponta Europa”, extremo sul deste território britânico, com vistas desafogadas para o estreito, Espanha e Marrocos…se a meteorologia estiver favorável.

A localização da bateria, no extremo Sul de Gibraltar, tem um campo de visão privilegiado, podendo em dias de boa ou mesmo razoável visibilidade ver-se África e a navegação no Estreito.

A localização da bateria, no extremo Sul de Gibraltar, tem um campo de visão privilegiado, podendo em dias de boa ou mesmo razoável visibilidade ver-se África e a navegação no Estreito.

A planta da área visitada

A planta da área visitada

A bateria está em todos os roteiros turísticos e é um dos poucos espaços visitáveis nos quais o acesso é "free".

A bateria está em todos os roteiros turísticos e é um dos poucos espaços visitáveis nos quais o acesso é “free”. E bem, na realidade o que há disponível para ver dificilmente justificava um pagamento.

“Harding’s Battery” (*)

A actual bateria está inserida numa área de cultura e lazer, que inclui na realidade pouco mais do que a própria estrutura – reconstruída para o efeito em 2013 – que suporta uma peça de artilharia de costa, um 12.5 inch Rifle Muzzle Loading, ou seja, calibre 12,5 polegadas (317,5 mm) e de “carregar pela boca”. A arma foi instalada em 1878 mas em 1904 este tipo de carregamento foi considerado obsoleto e, não se sabe exactamente quando, foi retirada, aliás de modo muito singular: lançado ao mar ali mesmo à frente da bateria! Ainda hoje lá se encontra e o que vemos na bateria é um canhão idêntico retirado de outra bateria em Gibraltar e ali instalado, em cima de uma plataforma (charriot) construída para o efeito em 2013.

Em 2013 os trabalhos de reconversão da bateria para a nova finalidade foram concretizados.

Em 2013 os trabalhos de reconversão da bateria para a nova finalidade foram concretizados.

A estrutura da bateria ficou muito semelhante à original mas foram introduzidas algumas necessidades para a actual finalidade, por exemplo, os gradeamentos para evitar quedas dos visitantes!

A estrutura da bateria ficou muito semelhante à original mas foram introduzidas algumas necessidades para a actual finalidade, por exemplo, os gradeamentos para evitar quedas dos visitantes!

Antes desta arma que mergulhou no oceano a bateria dispunha de dois canhões de 24 “libras” (1844 a 1863) e depois dois de 32 “libras” até 1878 quando recebeu o 12,5 polegadas, uma arma que na época era considerada potente e adequada àquela localização privilegiada na defesa do Estreito de Gibraltar. Estas últimas armas, de 32 “libras”, tinham um calibre de 174,8 mm e foram ao que parece os maiores canhões usados em navios veleiros, sendo também, como se vê, usados em fortificações de costa. O seu alcance prático era inferior a 1.000 metros embora a granada pudesse atingir mais de 3.000.

O canhão de 12 polegadas que ali existia foi lançado ao mar mas felizmente em Gibraltar havia mais!

O canhão de 12 polegadas que ali existia foi lançado ao mar mas felizmente em Gibraltar havia mais!

A plataforma onde está hoje assente foi feita de novo tanto quanto possível igual à original.

A plataforma onde está hoje assente foi feita de novo tanto quanto possível igual à original.

Depois de recebidas dos paióis que se encontravam no sub-solo, as munições eram transportadas por aqui para serem carregadas "pela boca".

Depois de recebidas dos paióis que se encontravam no sub-solo, as munições eram transportadas por aqui para serem carregadas “pela boca”.

O acesso à zona onde o visitante pode tomar contacto com a história de Gibraltar e com muitos dos aspectos ligados à fauna e flora locais.

O acesso à zona onde o visitante pode tomar contacto com a história de Gibraltar e com muitos dos aspectos ligados à fauna e flora locais.

O 12inch pesa 38 toneladas, o cano tem 5 metros de comprimento e disparava granadas com um peso de 362,9 a 367,0 quilogramas. O alcance máximo destas era de 5.900 metros.

No sub-solo – onde hoje podemos ver uma simples mas completa exposição de painéis históricos e relativos à protecção do ambiente em terra, mar e ar – estavam as munições armazenadas, as quais eram transportadas para junto da arma através de duas torres por aberturas no tecto da estrutura, sendo depois, sob carris, transportadas para o local de municiamento da arma (pela boca).

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A última utilização militar de relvo do local ocorreu no decurso da 2.ª guerra Mundial quando ali, no local onde anteriormente tinha estado o 12Inch, e na área que vai do farol à mesquita (ver figura 3), se instalou uma bateria anti-aérea composta por peças Bofors 40mm, projectores e postos de observação.

Polo turístico, cultural, ambiental e de lazer

Em concreto, nesta ponta Sul de Gibraltar, pode-se visitar a bateria, o farol (por fora), o memorial ao general polaco Władysław Sikorski e há vários miradouros para se observar a paisagem. Há um posto de informação, café, restaurante e espaço para as crianças brincarem! Áreas para estacionamento de automóveis particulares e local para transportes colectivos ocasionais e transportes públicos regulares, completam a infraestrutura, moderna, que está muito próxima da “Mesquita do Guardião das Duas Mesquitas Sagradas, Rei Fahd bin Abdulaziz al-Saud”(oferta do Rei da Arábia Saudita, em 1997).

Ao fundo a "Mesquita do Guardião das Duas Mesquitas Sagradas, Rei Fahd bin Abdulaziz al-Saud"

Ao fundo a “Mesquita do Guardião das Duas Mesquitas Sagradas, Rei Fahd bin Abdulaziz al-Saud”

No sub-solo da bateria onde antes estavam munições hoje estão painéis fotográficos com informação histórica mas também sobre a protecção da vida animal na região.

No sub-solo da bateria onde antes estavam munições hoje estão painéis fotográficos com informação histórica mas também sobre a protecção da vida animal na região.

Aqui, onde em tempos estiveram armas, agora estão binóculos para observar a natureza e o meio ambiente.

Aqui, onde em tempos estiveram armas, agora estão binóculos para observar a natureza e o meio ambiente. O petroleiro entra na Baía de Gibraltar, ao fundo Espanha.

Não há falta de informação para quem goste de observar aves!

Não há falta de informação para quem goste de observar aves!

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A bateria em si, hoje, é uma infraestrutura muito simples que foi reconstruída da original, tendo no subsolo um par de corredores ao longo dos quais estão expostos vários painéis com informações de carácter histórico sobre Gibraltar desde tempos imemoráveis até à 2.ª Guerra Mundial, com referências aos vários povos e países que ocuparam o “Rochedo”, sobre a bateria – muito pouco porque pouca informação na realidade se encontra disponível – e bastante informação sobre matérias de carácter ambiental quer no território quer nas regiões envolventes, com destaque para as migrações de aves. Assim para os amantes da história militar o que há ali para ver é o canhão de 12 inch e a estrutura da bateria (que não é original).

Na área podemos detectar algumas estruturas que tiveram uso militar, olhando para a montanha distinguem-se outras, parte ainda activas.

Instalações militares de todas as épocas é coisa que não falta em Gibraltar, e na Ponta Europa também não!

Instalações militares de todas as épocas é coisa que não falta em Gibraltar, e na Ponta Europa também não!

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Como curiosidade refira-se que a actual guarnição militar, tem forças dos três ramos. O “Royal Gibraltar Regiment” do Exército Britânico, garante a manutenção de alguns locais e a sua operacionalidade, a maioria na área das comunicações. A “Royal Air Force Station Gibraltar”embora não tenha meios aéreos em permanência mantém-se em elevado estado de prontidão para apoio a operações que sejam desencadeadas e necessitem da infraestrutura aeronáutica local. O “Royal Navy’s Gibraltar Squadron” opera a partir da Base Naval, com lanchas rápidas e semi-rigidos, para apoio a operações navais na região.

O Royal Gibraltar Regiment do Exército Britânico garante também a guarda ao "Convento", a "Residência do Governador". Em segundo plano um elemento da Royal Gibraltar Police.

O Royal Gibraltar Regiment do Exército Britânico garante também a guarda ao “Convento”, a “Residência do Governador e Comandante -em-Chefe“. Em segundo plano um elemento da Royal Gibraltar Police.

Bem cedo o HMS Scimitar (P284) deixa a Base Naval em direcção à Baía de Gibraltar. Juntamente com o HMS Sabre, compões a pequena na activa - saídas diárias a várias horas - "frota permanente" da Royal Navy em Gibraltar. Os meios navais da Royal Gibraltar Police também actuam a partir desta base de grandes dimensões, apta a receber e reparar navios de grande porte.

Bem cedo o HMS Scimitar (P284) larga em direcção à Baía de Gibraltar. Juntamente com o HMS Sabre, compõem a pequena mas activa “frota permanente” da Royal Navy em Gibraltar. Os meios navais da Royal Gibraltar Police também actuam a partir desta base, apta a receber e reparar navios de grande porte.

As instalações da Royal Air Force junto à pista (e à fronteira terrestre) do território. Como é sabido esta pista tem a particularidade de ser a "entrada terrestre" de Gibraltar, dispor de semáforos para permitir a passagem de peões e viaturas, como está a acontecer na fotografia.

As instalações da Royal Air Force junto à pista (e à fronteira terrestre) do território. Como é sabido esta pista tem a particularidade de ser “atravessada” pelo acesso terrestre de Gibraltar e dispor de semáforos para permitir a passagem de peões e viaturas, como está a acontecer na fotografia.

Na área da bateria podemos encontrar ainda um ponto de observação da natureza, e um memorial em honra do General Władysław Sikorski , primeiro-ministro polaco no exílio e comandante em chefe das suas forças armadas, durante parte da 2.ª Guerra Mundial, quando o seu país foi ocupado pela Alemanha e pela União Soviética. Teve uma extraordinária carreira, em cargos militares e civis, com ações de combate em várias guerras e era um fiel aliado do Reino Unido. Morreu exactamente em Gibraltar num acidente aéreo no ano de 1943. A sua memória está relembrada na Catedral Católica de “St. Mary the Crowned” no centro da cidade e também aqui na Ponta Europa, local onde o seu avião se despenhou, neste memorial inaugurado em 4 de Julho de 2013, por ocasião do 70.º aniversário do acidente.

O memorial ao General Władysław Sikorski, aqui erigido por ocasião do 70.º aniversário da sua morte, foi pago pelo governo Polaco depois de um aturado trabalho do "Conselho Polaco para a Protecção de Memória do Combate e do Martírio!" (em tradução livre), e com a simpatia do governo de Gibraltar.

O memorial ao General Władysław Sikorski, aqui erigido por ocasião do 70.º aniversário da sua morte, foi pago pelo governo Polaco depois de um aturado trabalho do “Conselho Polaco para a Protecção da Memória do Combate e do Martírio!” (em tradução livre), e com a simpatia do governo de Gibraltar.

Assim para os amantes da história militar, tirando o canhão de 12 inch, a estrura da bateria e o memorial ao General Władysław Sikorski muito pouco há ali para ver. Apesar disso, conseguiu-se pelo ordenamento do espaço e a inclusão de elementos de informação muito simples, adicionar mais um ponto de visita a um território todo ele repleto de pontos turísticos.

Para um português que seja interessado nestas temáticas é impossível não pensar de imediato no extraordinário potencial que têm as baterias de artilharia de costa da Fonte da Telha, Outão e Parede. Quer na vertente militar quer na ambiental e de lazer, são locais que podem vir a ter um aproveitamento turístico que tarda.

Um dos aspectos que “joga contra nós”, é o quase completo afastamento das grandes empresas portuguesas de uma participação na recuperação do património histórico-militar. Haverá aqui um longo caminho a percorrer, quer em, termos de motivação das empresas quer…fiscais. Muito do que é feito nesta área no Reino Unido tem o patrocínio de empresas, grupos que assim mostram a sua responsabilidade para com as pessoas e o local onde desenvolvem a sua actividade, recolhendo algum benefício em termos fiscais.

Já agora, sabe o leitor a origem do Grupo Casais que patrocinou a remodelação desta “Harding’s Battery”? Portugal, pois é!

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Pois é, foi mesmo um grupo empresarial português que ajudou a concretizar a recuperação desta bateria de artilharia de costa em Gibraltar: o Grupo Casais

 

(*) O nome advém de Sir George Harding, engenheiro militar, que chegou a combater nas guerras napoleónicas, e em 1844 iniciou a construção da bateria. Faleceu em 1860 com o posto de tenente-general.

 

Sobre artilharia de costa em Gibraltar leia também no Operacional:

GIBRALTAR: O CANHÃO DAS 100 TONELADAS

Sobre artilharia de costa em Malta, leia no Operacional:

O MAIOR CANHÃO DO MUNDO

Sobre artilharia de costa em Espanha, leia no Operacional:

“DE ESPANHA…

Sobre artilharia de costa em Portugal, leia no Operacional:

OS ÚLTIMOS DISPAROS DO “MURO DO ATLÂNTICO” PORTUGUÊS

FUTURO MUSEU MILITAR DE ARTILHARIA DE COSTA

FORTRESS STUDY GROUP : STUDY TOUR – PORTUGAL (30MAI/06JUN 2015)

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